quinta-feira, 29 de novembro de 2007

O heterónimo Álvaro de Campos



  • Álvaro de Campos é o mais moderno dos heterónimos de Fernando Pessoa, até pelo facto de, este estar formado em engenharia Naval e numa escola muito especial, em Glasgow).


  • O seu autor (Fernando Pessoa) escreve os seus poemas segundo as características deste heterónimo quando sente um súbito impulso.


  • Para Campos a sensação é tudo, "sentir é tudo" e o seu desejo é "sentir tudo de todas as maneiras".

    • Sente uma frustação total devido à incapacidade de unificar em si o pensamento e o sentimento.


    • Apesar de Álvaro de Campos se caracterizar pelo sensacioniso, este diferencia-se de Alberto Caeiro, na medida em que para Campos a sensação vem do sujeito e não do objecto, apresentando assim um sensacionismo subjectivo.


    • Incorporando todas as possibilidades sensoriais e emotivas, apresenta-se entre o paroxismo da dinâmica em fúria e o abatimento sincero, mas quase absurdo.


    • Depois de exaltar a beleza da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida, a poesia de Campos revela um pessimismo agónico, a dissolução do "eu", a angústia existencial e uma saudade da infância irremediavelmente perdida.


    • A sua poesia divide-se em três fases. Numa primeira fase, na decadentista, de seguida, na sensacionista e na futurista e, por fim , na pessimista.



    1ª Fase de Álvaro de Campos- "Decadentismo"

    - exprime o tédio, o enfado, o cansaço, a naúsea, o abatimento e a necessidade de novas sensações


    - traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia

    - marcado pelo romantismo e simbolismo (rebuscamento, preciosismo, símbolos e imagens)


    - abulia, tédio de viver

    - procura de sensações novas

    - busca de evasão


    2ª Fase- "sensacionismo-Futurismo"

    Nesta fase, Álvaro de Campos celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atracção quase erótica pelas máquinas, símbolo da vida moderna. Campos apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. A “Ode Triunfal” ou a “Ode Marítima” são bem o exemplo desta intensidade e totalização das sensações. A par da paixão pela máquina, há a náusea, a neurastenia provocada pela poluição física e moral da vida moderna.

    - celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna

    - apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina

    - exalta o progresso técnico, a velocidade e a força

    - procura da chave do ser e da inteligência do mundo torna-se desesperante

    - canta a civilização industrial

    - recusa as verdades definitivas


    - estilisticamente: introduz na linguagem poética a terminologia do mundo mecânico citadino e cosmopolita

    - intelectualização das sensações

    - a sensação é tudo

    - procura a totalização das sensações: sente a complexidade e a dinâmica da vida moderna e, por isso, procura sentir a violência e a força de todas as sensações – “sentir tudo de todas as maneiras”


    - cativo dos sentidos, procura dar largas às possibilidades sensoriais ou tenta reprimir, por temor, a manifestação de um lado feminino


    - tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir


    - exprime a energia ou a força que se manifesta na vida

    3ª Fase- "Pessimismo"

    - dissolução do “eu”

    - a dor de pensar

    - conflito entre a realidade e o poeta

    - cansaço, tédio, abulia ("Um supremíssimo cansaço,/ íssimo, íssimo, íssimo,/ Cansaço...")

    - angústia existencial ("Esta velha angústia"; "Apontamento"; "Lisbon revisited")

    - solidão

    - nostalgia da infância irremediavelmente perdida (“Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”, Aniversário)


    • A nível estético-estelístico:

    Verso livre, muitas vezes longo;

    Estilo impetuoso, torrencial, nervoso e xcessivo, expressando o mundo das sensações e das máquinas;

    Frases nominais

    Desvios sintácticos

    Interjeições

    Substituição de fonemas

    Uso de apóstrofes, exclamações, aliterações, anáforas, repetições, sinestesias, metáforas, personificações, hipérboles, onomatopeias, etc...



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